O novo acordo de terras raras entre Ucrânia e EUA
- Juan Brandi Prado
- 14 de mai.
- 3 min de leitura
O recém-assinado e ratificado acordo entre a Ucrânia e os Estados Unidos sobre a exploração de minerais estratégicos, especialmente aqueles chamados de terras raras, marca um capítulo importante para a Ucrânia, mas também para os EUA. O acordo representa um impulso por parte dos norte-americanos na reestruturação das relações econômicas globais, buscando alternativas que possam diminuir a dependência da importação desses recursos da China. Além disso, esse acordo também reflete a contínua luta da Ucrânia por parcerias internacionais que possam ajudá-la em sua manutenção da independência, aproveitando seu enorme potencial mineral para se reposicionar no cenário internacional e buscar uma significativa reaproximação com Washington.
O contexto do acordo
Nos últimos anos, a indústria global de minerais raros enfrentou intensos reveses devido a disputas comerciais e medidas protecionistas. A recente imposição de restrições à exportação de determinados minerais pela China, que tradicionalmente é a maior produtora desses elementos, confirmou algo que há muito tempo vinha sendo apontado pelos EUA: a necessidade de diversificar as fontes desses recursos.
Diante dessa conjuntura, tanto os Estados Unidos quanto a Ucrânia perceberam uma oportunidade: para os EUA, garantir acesso a matérias-primas estratégicas para a indústria de alta tecnologia e defesa; e para a Ucrânia, atrair investimentos, impulsionar a modernização de seu setor mineral — atualmente estagnado devido aos efeitos da guerra com a Rússia — além de se inserir sob o guarda-chuva de investimentos diretos estadunidenses, o que pode aumentar a segurança do país, já que, uma vez realizados os investimentos, o desejo de Washington de assegurar o retorno tende a ser maior.
O que são terras raras e qual sua importância
As terras raras compreendem um grupo de 17 elementos metálicos que, apesar do nome, não são necessariamente escassos na crosta terrestre, mas cuja extração e processamento requerem tecnologias especializadas. Entre esses elementos, destacam-se o escândio, o ítrio e os elementos do grupo dos lantanídeos. Esses minerais desempenham papel crucial na fabricação de uma vasta gama de produtos, como componentes essenciais na indústria tecnológica, incluindo semicondutores, ímãs de alto desempenho e dispositivos eletrônicos; além disso, são de extrema importância para a indústria de defesa, sendo utilizados em sistemas de orientação, radares e equipamentos militares de última geração. Por fim, o setor energético também depende desses minerais para a fabricação de baterias, especialmente as de nova geração utilizadas em veículos elétricos e sistemas de armazenamento de energia.
O conteúdo do acordo

O acordo estabelece uma cooperação estratégica abrangente no setor de minerais críticos. Entre os principais pontos, destaca-se o acesso preferencial dos EUA a uma variedade de recursos minerais ucranianos, incluindo terras raras, titânio, lítio, urânio, petróleo e gás natural.
Para operacionalizar essa parceria, foi criado o "Fundo de Investimento de Reconstrução EUA-Ucrânia", com o objetivo de atrair investimentos globais e acelerar a recuperação econômica da Ucrânia. Esse fundo será abastecido com 50% dos royalties provenientes de novas licenças de exploração mineral, garantindo que os lucros advindos desses investimentos beneficiem diretamente o país.
Além disso, o acordo prevê uma colaboração econômica e tecnológica, na qual os EUA se comprometem a realizar investimentos diretos — seja por meio de assistência financeira ou militar — enquanto a Ucrânia contribuirá com sua expertise e potencial industrial. O tratado começa com uma lista inicial de 55 minerais, com possibilidade de incluir novos recursos à medida que os mercados e as tecnologias de extração evoluam.
Importante ressaltar que o acordo não condiciona a aspiração ucraniana de ingressar na União Europeia, nem implica o uso das receitas minerais para reembolsar ajudas passadas dos EUA, limitando-se a futuras assistências militares. Além disso, a Ucrânia manterá o controle total sobre seu subsolo, infraestrutura e recursos naturais, conforme declarado pelas autoridades ucranianas.
Conclusão
Destarte, a partir de tudo o que foi apresentado, é possível concluir que o acordo representa uma grande vitória para Kiev, que conseguiu manter sua soberania nacional intacta, evitar compromissos de pagamentos retroativos e garantir uma reaproximação com Washington, além de criar perspectivas favoráveis para a reconstrução do país após a guerra.
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