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Futuro do Grupo Wagner segue incerto após morte de Prigozhin
Por Domingos Morador e Flávio Lira em 07 de setembro de 2023
2023.OE18
As operações do Grupo Wagner ao redor do mundo se encontram em um limbo após a morte de seu líder, Yevguêni Prigozhin, em 23 de agosto passado. Segundo a BBC (citando autoridades russas), um jato particular Embraer Legacy 600 voava de Moscou para São Petersburgo com dez pessoas a bordo, incluindo os tripulantes. Entre os passageiros, estava Prigozhin e Dmitry Utkin, provável cofundador do grupo mercenário. Um vídeo veiculado na imprensa e nas redes sociais mostra o exato momento da queda vertical da aeronave em chamas perto da cidade de Tver. As autoridades russas confirmaram, através de testes genéticos, as identidades dos passageiros. A Embraer declarou não ter maiores informações sobre o caso, relatando que havia suspendido o suporte ao avião em 2009 ao seguir sanções impostas à Rússia.
Dias após o sinistro, o Kremlin se pronunciou, negando envolvimento no acidente. Prigozhin, de 62 anos, liderou o grupo que atuava em diversas guerras, inclusive na atual invasão do território ucraniano pela Rússia. Linha auxiliar das forças russas, o Grupo Wagner inicialmente era formado por combatentes experientes. No entanto, com o passar do tempo, Prigozhin aparentemente passou a recrutar pessoas com pouco ou nenhum treinamento, especialmente detentos de prisões russas. O grupo comandou o ataque à cidade de Bakhmut em uma das batalhas mais longas e violentas da guerra da Ucrânia até o momento. É de se salientar que o acidente acontece dois meses após Prigozhin lançar um motim fracassado contra a liderança militar da Rússia, quando as forças mercenárias, em fins de junho, chegaram a controlar temporariamente a cidade de Rostóvia do Dom, próxima à fronteira ucraniana. O levante ocorreria após meses de tensões entre Prigozhin e o ministro da Defesa da Rússia, Serguei Shoigu, em relação aos rumos do conflito na Ucrânia.
Na Rússia, a condição de veteranos de guerra que, anteriormente, ex-combatentes do Grupo Wagner que haviam lutado na Ucrânia possuíam está sendo revista, o que não mais lhes permitiria receber pensões e benefícios do estado. Em julho de 2023, Prigozhin havia comparecido à Cúpula África-Rússia em São Petersburgo junto a chefes de estado africanos, alguns dos quais, alegadamente, contaram com operações do grupo em seu território, como República Centro-Africana e Níger. Após a morte de Prigozhin, espera-se que o estado russo assuma o controle das atividades do grupo em alguns países africanos através de empresas militares privadas associadas ao Ministério da Defesa da Federação Russa. É incerto, porém, se isto realmente ocorrerá e qual o papel específico desempenhado por (ex-)membros do Grupo Wagner nas operações já em andamento.
REFERÊNCIAS:
Exame (2023). Mundo. Rússia confirma morte de Prigozhin, líder do grupo Wagner. Disponível em: https://exame.com/mundo/russia-confirma-morte-de-prigozhin-lider-do-grupo-wagner/. Acesso em 06 de setembro de 2023.
G1-Globo (2023). Vídeo mostra queda de avião que deixou 10 mortos na Rússia; Yevgeny Prigozhin, do Grupo Wagner, estava na aeronave que caiu. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2023/08/23/prighozin-queda-aviao-video.ghtm. Acesso em 06 de setembro de 2023.
Sukhankin, S. (2023). The Jamestown Foundation. Moscow Reconsiders the Wagner Group’s Role in Africa in Eurasia Daily Monitor. Disponível em: https://jamestown.org/program/moscow-reconsiders-the-wagner-groups-role-in-africa/. Acesso em 07 de setembro de 2023.